Sua empresa deve deixar uma pegada sustentável


Você pode, e deve ser visto em seu mercado como uma empresa que promove o bem, para as pessoas e para o planeta! Veja porque:

Engana-se aqueles que dizem que o ESG é um conceito novo.  Só que não! 

Há muito tempo empresas, pessoas e comunidades lutam para que aja um equilíbrio entre a sociedade, o planeta e as empresas.

O ESG é uma sigla criada por analistas de investimentos de responsabilidade social (SRI é a sigla para Social Responsible Investment, em inglês) para avaliar empresas que adotavam práticas sustentáveis.  O significado destas três letrinhas é: E = Ambiental (Environment); S = Social; e G = Governança. Algumas pessoas, no Brasil, preferem o termo ASG, em referência ao Ambiental.

É importante conhecermos um pouco do passado, para entendermos e presente e poder desenhar o futuro que queremos.

Partindo do começo, ou próximo dele!

As questões sociais começaram a chamar atenção desde o início da Revolução Industrial.  A industrialização tirou as famílias do campo, e mudou as relações sociais e familiares da época.  

É importante lembrar que antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual, as máquinas utilizadas eram bastante simples. Apesar de as tarefas serem divididas entre os artesãos, a forma como eles se organizam permitia que cada artesão dominasse todas as etapas do processo produtivo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Este trabalho era realizado em oficinas montadas nas residências dos próprios artesãos, o que garantia uma proximidade grande entre patrão (mestre), o empregado (jornaleiro ) e a família. Havia uma hierarquia formada pelos mestres e os jornaleiros, e os eventuais problemas da profissão eram tratados nos sindicatos compostos por patrão e empregado. 

Com a Revolução Industrial houve uma ruptura significativa deste modelo social.  As famílias se dividiram, e algumas delas até se dissolveram, porque a mulher possuía um papel importante nas linhas de produção, ao lado das crianças.  Aos homens cabiam as atividades mais pesadas.  Assim, o desgaste físico do homem era mais rápido e o colocava em uma “aposentadoria” muito antes das mulheres.  Muitas crianças sofriam acidentes nas linhas de produção, o que muitas vezes as mutilavam.  O contato pessoal era muito pequeno, os laços de amizade foram se desfazendo, e a relação chefe subordinado era drasticamente diferente.

O excesso de horas de trabalho, e dos acidentes de trabalho acabaram por resultar em uma série de movimentos sociais e na formação de um novo modelo de sindicatos, desta vez formado apenas por trabalhadores.  É dessa época, o surgimento de algumas cooperativas de trabalhadores, cuja maior preocupação era a assistência nos momentos de maior necessidade.  Para atender a essa situação, alguns governos na Europa adotaram uma política de Welfare State. Esta política de bem-estar assumida pelos governos colocava o Estado como o provedor das necessidades básicas da sociedade.  Essa situação dura até o surgimento das políticas neoliberais que colocar a Inglaterra e os Estados Unidos na linha de frente, e do fracasso dos modelos socialistas.

Com o Neoliberalismo surgem algumas instituições que tem como objetivo suprir as necessidades da sociedade que o Estado não conseguia suprir, são as empresas do Terceiro Setor ou Organizações sem Fins Lucrativos .

Surgem as organizações e as corporações. As organizações são formadas por pessoas para atender necessidades das pessoas. Com o crescimento das organizações surgem as corporações que são grandes organizações, com vários participantes e a presença de acionistas.  Teoricamente, as corporações deveriam possuir o mesmo propósito das organizações.  Só que não, com o tempo estas corporações acabaram assumindo um modelo de “pessoa” jurídica e voltando-se as expectativas daqueles que colocavam o dinheiro, ou seja, os acionistas.  O sistema jurídico se adequa a esse novo modelo e as corporações passam a obter benefícios dos cidadãos.

Porém, ao atender os interesses dos acionistas muitas corporações deixaram de atender os interesses da população e suas atividades acabaram por gerar uma série de externalidades que nem sempre eram positivas. Em meados do século XVIII, a Igreja Metodista sugeriu aos seus seguidores que não investissem em empresas que praticassem o comércio de escravos, contrabando e consumo conspícuo, e resistiu investimentos em empresas produtoras de bebidas alcoólicas, produtos do tabaco, armas, e promovessem jogos de azar.  Ou seja, investimentos em produtos que conflitavam com sistemas de crenças pessoais ou valores sociais, morais ou éticos.

O investimento socialmente responsável, nos EUA, aumentou na década de 1960, quando os manifestantes da Guerra do Vietnã exigiram que os fundos de doação da universidade não mais investissem em empreiteiras de defesa.

Em 1979, Archie Caroll apresenta pirâmide das Responsabilidades da Empresa, e em 1984 Edward Freeman revisita a teoria dos Stakeholders, colocando-a novamente na mesa de discussões.  Ganha força, então, as teorias sobre Responsabilidade Social Corporativa.

Alguns economistas famosos, entre eles Milton Friedman, passam a defender um modelo capitalista em oposição a esse modelo mais focado nos stakeholders.  Tem-se então a guerra Shareholders x Stakeholders. Para Friedman, ao produzir bens que fossem de interesse da sociedade, agir dentro da lei, gerar empregos e pagar impostos, as empresas já estariam cumprindo o seu papel social.  As atividades mais voltadas à filantropia deveriam ficar a cargo do Estado ou dar organizações religiosas, ou aquelas criadas para esse fim.  Não cabe ao acionista fazer filantropia de forma involuntária.

Voltando à Revolução Industrial! 

Além dos problemas sociais, a revolução industrial trouxe uma série de problemas ambientais.  Não quer dizer que antes da revolução industrial não houvesse problemas ambientais, a questão é que houve um aumento da poluição, da retirada de recursos do planeta, e da concentração da poluição em algumas regiões.

O desconhecimento sobre a utilização de produtos químicos começou a gerar problemas para a saúde humana.  A queima exagerada do carvão na Inglaterra acabou gerando um fenómeno chamado SMOG .

A sequência de impactos ambientais provocados por esse processo de industrialização e exploração de recursos do planeta acabou reduzindo as nossas barreiras de proteção naturais, destruindo geleiras, provocando aumento dos mares, e modificando a temperatura do planeta. O somatório dessas mudanças coloca em risco a vida dos seres humanos, e, das empresas!

Muitos eventos foram realizados, muito material científico foi produzido. Em 1962, foi publicado o livro de Rachel Carson, Primavera Silenciosa, que chamava a atenção sobre o uso indiscriminado de produtos químicos, notadamente, o DDT (diclorodifeniltricloroetano) um dos mais poderosos pesticidas da atualidade e que foi usado amplamente durante na Guerra do Vietnã. Em 1972, foi publicado o relatório Limites do Crescimento, que abordava a questão da finitude dos recursos naturais, e em 1987, o relatório Nosso Futuro Comum que finalmente ratifica o uso do termo Desenvolvimento Sustentável.  Nos anos que se sucedem muitos trabalhos científicos que só comprovam que as ações do homem está colocando o planeta em risco.

Em meados da década de 1990, surge o trabalho de John Elkington, Triple Bottom Line, que sugere que as empresas além de perseguirem o resultado económico devem perseguir, também, o resultado social e ambiental em suas atividades. No final dos anos 1990 Kofi Annan faz um chamado para as empresas assinarem um pacto de apoio ao Desenvolvimento Sustentável, conhecido como o Pacto Global. A cada dia que passa mais empresas aderem a esse movimento, mesmo que de forma lenta, percebendo que a adesão a este movimento é uma questão de sobrevivência.

É sabido que as decisões de adotar práticas de sustentabilidade partem de cima para baixo. Ou seja, os C-suite devem estar engajados com estas práticas, e, também, envolver seus stakeholders.  Somado a isso, uma série de escândalos empresariais envolvendo a prática de propinas, ações ilegais e pouco éticas colocou o holofote no board das organizações. Deste modo, a governança passou a integrar as boas práticas da sustentabilidade empresarial.

Finalmente, tudo junto e misturado!

Se inicialmente o termo ESG referia-se a três letrinhas que agrupavam as ações da empresa em relação a forma como ela lida com o ambiente, às suas práticas sociais e de governação, hoje, este conceito evoluiu e a análise ESG e está se tornando parte integrante da pesquisa de crédito fundamental.  

O termo ESG tem ganhado muita atenção nos últimos meses, notadamente, após o COVID-19 que tornou pública as nossas fragilidades perante às possíveis mudanças climáticas, envelhecimento da população, e as diferenças sociais. Cada vez mais, investidores institucionais procuram investir em empresas que possuem relatórios ESG claros e transparentes, e que apresentem atitudes empresariais que contemplem os cuidados com o meio ambiente, com as pessoas e que gerem valor para a empresa, para os acionistas e todos os demais stakeholders. Ele, normalmente, aparece relacionado aos investimentos com responsabilidade social ou até investimentos sustentáveis.  Mas existem várias formas de investimentos sociais ou sustentáveis:
 

  • Investimentos socialmente responsáveis (SRI): são avaliados de acordo com questões éticas específicas (por exemplo: jogos de azar, tabaco, armamento etc).  Este tipo de investimento teve o seu surgimento relacionado à aspectos religiosos.
  • Investimentos de impacto: os resultados sociais e ambientais positivos são os objetivos principais, não necessariamente o retorno do acionista.
  • Green Bond (Títulos Verdes): é um título de renda fixa projetado para apoiar especificamente projetos relacionados ao meio ambiente.  
  • ESG: Apesar de haver similaridades e convergências entre essas definições, o ESG é uma medida de maior risco e gerenciamento de recompensas.  


Uma empresa madura em indicadores ESG pode lançar Green Bonds, e ser um investimento SRI.  Mas lembre-se, uma análise ESG é mais abrangente, porque além das análises como não investir em uma empresa de armamento, ou investir em empresas verdes, faz-se análises profundas sobre a sustentabilidade do negócio, e isso implica em uma visão de longo prazo.  Então, vamos reforçar o nosso conhecimento em relação à sustentabilidade:

ü    Desenvolvimento Sustentável: retirar do meio ambiente os recursos que necessitamos para a nossa sobrevivência pensando na sobrevivência da futura geração.  Por isso, diz-se que o desenvolvimento sustentável é um conceito transgeracional.  Ou seja, envolve várias gerações.
ü    Sustentabilidade corporativa: implica na continuidade da empresa para as futuras gerações.  Assim, precisamos cuidar do meio ambiente e do social para que a empresa tenha sustentabilidade, ou seja, continue por várias gerações.

A análise ESG pode ser realizada de fora para dentro (quando os analistas e investidores avaliam a empresa) ou de dentro para fora (quando os gestores avaliam a empresa e identificam os pontos que devem ser abordados para a adoção de critérios ESG). 

Existem atualmente vários provedores de dados ESG (avaliação de fora para dentro): (i) Bloomberg ESG Data Service; (ii) Corporate Knights Global 100; (iii) Índice de Sustentabilidade DowJones (DJSI); (iv) Serviço Institucional ao Acionista (ISS); (v) MSCI ESG Research; (vi) RepRisk; e (viii) Thomson Reuters ESG Research Data.

Alguns acordos como o European Green Deal (Acordo Verde Europeu), e as metas arrojadas de Carbono Zero adotadas por países como EUA, Canadá e Austrália, só corroboram para que o ESG seja uma prática adotada pelas empresas, não apenas em relação a captação de novos investimentos.  O setor bancário tem entrado a passos largos nesse processo, alinhando suas linhas de crédito e financiamento com as regras ESG. A única maneira de as partes interessadas evitarem condições precárias de empréstimos e exclusão do mercado de capitais é mostrar evidências de terem desenvolvido estratégias robustas de sustentabilidade e ESG.

Além disso, o mercado private equity também inclui critérios de sustentabilidade e ESG em suas estratégias de portfólio. Os investidores privados perceberam que investir em empresas com uma estratégia robusta de sustentabilidade corporativa afeta positivamente o ROI, reduz os riscos e aumenta as receitas.

Finalmente, por que deixar uma pegada sustentável?

  • E: boas práticas ambientais atraem mais cliente, principalmente os jovens, permitem melhor acesso aos recursos, reduz custos operacionais (ao reduzir consumo de energia, água e matérias primas), melhora a qualidade dos produtos e processos.
  • S: práticas sociais levam a uma maior credibilidade, melhoram a reputação, atraem talentos, aumentam a moral dos funcionários e constroem relações mais fortes com a comunidade.
  • G: a boa governança leva ao apoio governamental, subsídios, superação da pressão regulatória e melhores relações com investidores.


Ou seja, ao adotarem boas práticas de sustentabilidade, a empresa só tem a ganhar.

 i - O termo deve-se ao fato de eles trabalharem por jornadas.
 ii -  As ONGs, ou Organizações não Governamentais surgirão apenas alguns anos depois por uma demanda da Organização das Nações Unidas (ONU).
 iii - Seria bastante interessante o leitor assistir ao filme The Corporation que mostra bem essa transição.
 iv - O termo "smog" foi usado pela primeira vez no início de 1900 para descrever uma mistura de fumaça e névoa. A fumaça, geralmente, vinha da queima de carvão. A poluição era comum em áreas industriais e continua sendo uma visão familiar em algumas cidades, como por exemplo São Paulo. A primeira temporada da série The Crown traz um episódio em que demostra claramente o problema ocasionado pela neblina provocada pela queima do carvão.


 

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